sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Um pouquinho da minha história, mãe.

Confesso que desde novinho percebi algo diferente no Mateus. A primeira coisa que me veio a cabeça foi o fato dele ser prematuro (nasceu aos 7 meses de gestação). Minha gravidez eu só descobri aos 3 meses, e posso dizer que esse trimestre, onde reza a lenda, deve ser muito tranquilo para o bem do feto, foi caótico. Estava vivendo uma carga emocional muito pesada na minha vida. Tinha acabado de perder minha amada avó. Meu emprego, ahhhhh, meu emprego, meu emprego era um subemprego. Não gosto nem de lembrar. Enfrentei no comecinho da gravidez uma jornada que começava às 5:30h da manhã, quando eu acordava para ir trabalhar numa construtorazinha picareta e terminava por volta das 23:00h, quando finalmente chegava da Faculdade. Enfrentei greve de ônibus sem saber que estava grávida. Quem já passou por essa situação, sabe como é HOSTIL. Alimentação precária, sempre tive, desde que comecei a morar sozinha. Anos luz abusando de tranquilizantes. Só assim prá gente viver nesse "mundo de pessoas normais". Bipolar, ainda não diagnosticada. Em pé de guerra comigo, com o marido, com a sogra, com a síndica, com o mundo. Meu pré natal, a partir do momento que descobri que estava grávida foi feito com muito carinho, pelo Dr. Edmundo Freitas, que além de um grande médico, é o nosso anjo da guarda. Fui atropelada por uma bicicleta, em frente ao meu trabalho, quando estava indo embora, atravessando as duas pistas escuras e esburacadas da BR 222. Mas além dos susto, de uma pancada forte no rosto e no joelho, nada aconteceu. Parei de trabalhar logo em seguida. Fiquei em casa o restante da gravidez. Meu marido foi maridão, ele e minha sogra me deram TODO apoio para passar o restante da minha gravidez quase em paz. QUASE. Porque sempre tem as zicas do dia a dia né? Mas fui a cara da ânsia, da síndrome do pânico, da desobediência às ordens médicas e da briga. Por nada, brigava. Enjoei muito. Vomitei meu mundo. T-O-D-O-S os anos dentro do Grande Circular 1 e 2 (linhas de ônibus aqui de Fortaleza/CE), eu vomitei. Fiz todos os exames, acompanhamentos, ultra morfológica no 5º mês - tudo normal. Foi assim, até o dia da minha pressão chegar a 21/15, já no sétimo mês e eu ter que passar uma cesárea de emergência, podíamos ter morrido. Nunca tinha parado prá pensar nisso. Na verdade, eu nunca tinha pensado nem em ser mãe. Nem em nada. Eu evitava pensar, prá não ficar doida. Pouco antes dele nascer eu ficava entre a euforia de arrumar o quartinho dele, e me negar a ver programas sobre recém nascidos no Discovery Home & Health. Sabe quando a ficha não cai? Você fica em um transe. EU. Ele passou 15 dias na UTI pediátrica, por causa de uma insuficiência respiratória, por ser prematuro, teve icterícia. Mas em momento nenhum teve problemas neurológicos, ou infecção, ou qualquer outro problema, tanto que recebeu autorização para ir prá casa antes de mim. Nesses dias internados, pensei tanto em nós, no enorme amor que ele era na minha vida, queria poder voltar no tempo e fazer tudo diferente, mas não podia mais. Também não amamentei. Não consegui. Ele saiu do hospital pesando 2.2kg e chegou e pesar 1.9kg. Era pele e osso. Conseguimos um pediatra excelente. Dr. Paulo Ronalth. Ele passou um leite especial para o Mateus tomar. Pré NAN. E ele simplesmente recuperou o seu peso. Ganhou 1.0kg/semana e em um mês já estava com o peso ideal. Um gorducho. Fofo. Mas de pouco riso. Sério o tempo todo. Não era uma criança babona. Pôxa, quase todos os nenéns que eu conhecia até então, eram babões. Quase borbulhantes de tão babões. Ele não. Meu pai veio conhecê-lo e disse que eu também era a emburrada em pessoa. Nunca me preocupei com ele ser emburrado. Não voltei a trabalhar fora, além de mãe e dona-de-casa, trabalho com marketing digital na empresa da minha família, junto com meu pai, tia, tio. Posso dizer que minha vida é o Mateus. Acompanho cada momentinho dele, desde que ele foi me entregue nos braços pelos médicos da UTI neonatal, o que ele come, o que ele veste, tudo, tudo, eu que cuidei e cuido. Sozinha. Não tive mãe, não tive sogra, não tive tia, irmã, enfermeira, babá, faxineira. NADA. Eu e o Ricardo podemos levantar a cabeça e dizer somos pais. Lógico, temos erros, muitos talvez, mas somos pais. Me preocupei porque eu senti alguma coisinha a mais, sabe. Lá no fundo. E cada dia que passa, e a cada coisa que lemos a respeito da Síndrome de Asperger, do Autismo, depoimentos, matérias, programas de televisão, os sinais que ele nos dá - claramente - em casa. E agora também na escola. É tipo um misto de sentimentos loucos que eu, e acredito, o pai dele também, estamos sentindo. O medo, a revolta, procurar de quem é a culpa, não existe culpa, mas a gente passa por todas as fases. Não aceitar. Ficar P da vida. Porra! Por que ele não faz tal coisa? Ou tem tal reação... O Mateus soca o rosto, teve época de ficar marcado. Depois parou. Agora voltou com força total. É desnorteante. E eu sinto que isso faz mal não só a nós, mas já faz mal a ele também. Pois ele é um menino inteligente e simplesmente faz isso sem motivo, quase como um tique nervoso. Faz também o chamado "flap com as mãos". Tem suas crises de ira desde bem novinho. A gente brincava que ele "soltava raios de ódio", às vezes dói menos a gente levar assim na leveza, do que transformar tudo em um calvário. Com 9 meses, ele desbloqueava o Iphone do pai - que tem senha, com facilidade. Iphones, Smartphones, Tablets... Adora esse tipo de "brinquedo". E adora girar tudo que é girável. E o que não é, ele acaba dando um jeito de girar. Obsessivamente. Tem medo do liquidificador, PAVOR, mas não tem medo de entrar debaixo de um caminhão (ele adora) para olhar rodas e o que tem embaixo, por exemplo. Ou de um cachorro enorme vindo latindo lamber ele, mesmo que seja um cão desonhecido (pois temos cachorros também). Nem de formiga, ele adora, por sinal. Nem de arara. Odeia que lavem a cabeça dele no banho, odeia seguir atividades que não sejam no tempo em que ele deseja fazer e pronto. Enfim. Os sinais...

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